12 de maio de 2015

Bolhinhas de sabão

   Sentada na grama do parque procuro assunto que eu possa escrever, me viro no chão e deito de barriga para baixo. Não tem trilha de formigas na terra nem ninguém sentado perto de mim, meus olhos são puxados para cima como imã, e vejo as poucas nuvens que vão se transformando em rostos, objetos ou animais. Algumas se juntam com outras, e algumas preferem ficar sozinhas.
   Mexo e remexo tentado procurar uma posição que não exija minha força, enquanto ouço uma conversa que vem vindo de longe. O parque está vazio hoje, e mesmo assim está difícil escutar quem vem, pois ao lado meus pais também conversam. Cada vez mais próximos consigo identificar a voz de duas mulheres, de costas para elas tento disfarçar.
   Elas conversam sobre uma terceira mulher, que está gravida. Discutem suas opniões a respeito do filho que não podia nascer. Meio perdida começo a ter pensamentos aleatórios.
   Às vezes eu falo sozinha, só às vezes, como hoje de manhã enquanto me trocava. Gosto de banho quente, mas o espelho do banheiro fica todo embaçado e isso me assusta um pouco, porque parece uma nevoazinha de vapor, que me faz por um tempo ficar sem apoio. Minha família sabe brincar de se esconder, e me fazem sempre procurar. O frio de agora me lembra o cheiro do chá que ontem eu tomei. Não dá pra sentar assim. Tô com fome. Mãe? Cadê você? Que horas são mesmo? Ai ai ai ai, uma borboleta.... Que voa muito perto de mim. Melhor eu sair daqui antes que alguém veja o pânico que passo em frente à um ser que devia ser inocente. 
   De repente uma de bolinha de sabão cai sobre mim, olho ao redor...
   Encolho as pernas aos peitos e solto a cabeça para trás. Mais e mais bolhinhas. Fico contente por tê-las. Deito no colo que a grama oferece, algumas queriam ir mais alto, enfraqueciam e estouravam. Outras gostavam de companhia, ficavam juntinhas e tinham todo tempo só delas. 
   Ali estava diferente, a grama era mais escura e o céu mais brilhante. Era a falta de me deitar sobre opiniões diferentes. As bolhas me rodeavam e eu via o reflexo em roxo, rosa e azul. Refletiam o parque inteiro, amenizavam a minha dor provocando meu sorriso, carregavam dentro de si o amor que nas gramas cairia ao desfazerem-se no ar.