Deitei ali mesmo. Bem ali onde o céu
parecia de mentira, o azul era escuro e as estrelas o salpicavam. Era uma bela
noite de lua Nova e não havia como vê-la. O rio tinha a cor de meus olhos e
refletia um pouco da leve luz que o céu nos concebia.
Algumas horas antes, em uma
caminhada pela praia, aguardávamos no desaguar do rio com o mar, um homem alto,
nascido na Bahia, que nos levaria com seu pequeno barco de passeio para
conhecer o rio e o mangue que cercava seus longos braços. Éramos seis no total,
o limite de passageiros que o barquinho carregaria. Subimos em nossa embarcação
com desejo, como caranguejos a procura do sal da praia, ou piratas em busca do
tesouro enterrado. Fomos levados rio a cima, e por um longo tempo apenas
observamos o que estava em volta, no silencio das águas que rio trazia. Então paramos
para um mergulho. Como se meus ossos sentissem a correnteza fria, desejei não
sair dali.
Com o tempo tudo foi ficando mais
bonito, o sol já se punha entre as árvores e arbustos que separavam o azul da
água e o azul do céu. E de um tom de céu mais escuro, as estrelas já nos
convidavam para ver a dança que se orgulhavam de fazer lá de cima. Com um rio
de profundidade muito maior do que qualquer um ali de nós, subi novamente no
barco e vi o quão longe já estávamos, nem mais via a praia de qual partimos.
Andei sobre as extremidades de madeira que construia o barco, com a delicadeza
de não cair dramaticamente sobre as águas que acabara de sair.
Resolvemos algum tempo depois, que
estava na hora de se despedir do cenário natural que observávamos sem ter
certeza da realidade. E ao tentarmos ligar o motor, recebíamos como resposta um
grunhido de quem não quer ir embora. Tínhamos um grande problema.
Estávamos longe, longe demais da praia.
Longe de tudo, no entanto, de ajuda. O mangue fazia do rio estreito, e os pernilongos
faziam de mim refém. Sem sinal de celular ou outro meio de comunicação
tentávamos remar sem muito a se conformar diante a esperança e força que
investíamos.
Não tínhamos como voltar, esperaríamos
pela salvação que parecia cada vez mais um conto de fazer criança dormir.
As horas passavam e eu não as notava,
atenta as mensagens que a lua me sussurrava. E por um instante encontraram
sinal e fizeram a ligação de ajuda. Em duas horas nos achariam, e de volta
estaríamos.
Implorei por naquela noite de
céu mais belo impossível, permanecêssemos no barco quase que parado, só não,
por conta da correnteza que nos levava com tranquilidade. E foi ali, só ali que
com os olhos nas estrelas pude perceber como o céu é coberto pelas tais, mas
entre tanta beleza descobri um buraco. Era um buraco num céu de alegria.
Alegria de meu nome, das estrelas e da gozada situação que me metera. O buraco
há ainda de ser preenchido por minha parte, completando assim o céu (ou melhor,
a mim), com as diversas estrelas cheias de vida, que caiam lá de cima pedindo
colo.
Lê, você anda poeta! Que legal. O que você anda lendo? vamos trocar figurinhas? As figuras de linguagem e as imagens que você cria são muito bonitas e podem ganhar cada vez mais densidade? Já leu Fernando Pessoa? procure o poema Tabacaria, ou O Guardados de rebanhos. Acho que pode ter a ver. Leia também contos do Tchekhov, da Lygia fagundes Telles, do Cortázar. Leia leia leia. Os mestres. Sua escrita só tem a crescer!
ResponderExcluirBom trabalho!
Luana