16 de março de 2015

Em um céu de alegria

  Deitei ali mesmo. Bem ali onde o céu parecia de mentira, o azul era escuro e as estrelas o salpicavam. Era uma bela noite de lua Nova e não havia como vê-la. O rio tinha a cor de meus olhos e refletia um pouco da leve luz que o céu nos concebia.
   Algumas horas antes, em uma caminhada pela praia, aguardávamos no desaguar do rio com o mar, um homem alto, nascido na Bahia, que nos levaria com seu pequeno barco de passeio para conhecer o rio e o mangue que cercava seus longos braços. Éramos seis no total, o limite de passageiros que o barquinho carregaria. Subimos em nossa embarcação com desejo, como caranguejos a procura do sal da praia, ou piratas em busca do tesouro enterrado. Fomos levados rio a cima, e por um longo tempo apenas observamos o que estava em volta, no silencio das águas que rio trazia. Então paramos para um mergulho. Como se meus ossos sentissem a correnteza fria, desejei não sair dali.
   Com o tempo tudo foi ficando mais bonito, o sol já se punha entre as árvores e arbustos que separavam o azul da água e o azul do céu. E de um tom de céu mais escuro, as estrelas já nos convidavam para ver a dança que se orgulhavam de fazer lá de cima. Com um rio de profundidade muito maior do que qualquer um ali de nós, subi novamente no barco e vi o quão longe já estávamos, nem mais via a praia de qual partimos. Andei sobre as extremidades de madeira que construia o barco, com a delicadeza de não cair dramaticamente sobre as águas que acabara de sair.  
   Resolvemos algum tempo depois, que estava na hora de se despedir do cenário natural que observávamos sem ter certeza da realidade. E ao tentarmos ligar o motor, recebíamos como resposta um grunhido de quem não quer ir embora. Tínhamos um grande problema. 
  Estávamos longe, longe demais da praia. Longe de tudo, no entanto, de ajuda. O mangue fazia do rio estreito, e os pernilongos faziam de mim refém. Sem sinal de celular ou outro meio de comunicação tentávamos remar sem muito a se conformar diante a esperança e força que investíamos.
  Não tínhamos como voltar, esperaríamos pela salvação que parecia cada vez mais um conto de fazer criança dormir.
  As horas passavam e eu não as notava, atenta as mensagens que a lua me sussurrava. E por um instante encontraram sinal e fizeram a ligação de ajuda. Em duas horas nos achariam, e de volta estaríamos.

 Implorei por naquela noite de céu mais belo impossível, permanecêssemos no barco quase que parado, só não, por conta da correnteza que nos levava com tranquilidade. E foi ali, só ali que com os olhos nas estrelas pude perceber como o céu é coberto pelas tais, mas entre tanta beleza descobri um buraco. Era um buraco num céu de alegria. Alegria de meu nome, das estrelas e da gozada situação que me metera. O buraco há ainda de ser preenchido por minha parte, completando assim o céu (ou melhor, a mim), com as diversas estrelas cheias de vida, que caiam lá de cima pedindo colo.

Um comentário:

  1. Lê, você anda poeta! Que legal. O que você anda lendo? vamos trocar figurinhas? As figuras de linguagem e as imagens que você cria são muito bonitas e podem ganhar cada vez mais densidade? Já leu Fernando Pessoa? procure o poema Tabacaria, ou O Guardados de rebanhos. Acho que pode ter a ver. Leia também contos do Tchekhov, da Lygia fagundes Telles, do Cortázar. Leia leia leia. Os mestres. Sua escrita só tem a crescer!
    Bom trabalho!
    Luana

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