3 de março de 2015

Esconderijo de memórias perdidas

Como vão embora?
   Ver a porta do último quarto do corredor aberta me faz olhar as fotos do mural da minha mãe, pensar pra onde foi a menina que eu era e aqueles sorrisos sincronizados das fotos. 
   Que saudade boa que me dá, como se voltasse no momento em que a foto foi tirada e lembrar dos detalhes da situação. 
    Ou então deitada na cama antes de dormir penso em milhares de erros que já cometi, dos mais discretos aos mais catastróficos. 
   Essas ocasiões costumam me emocionar, mas eu gosto de poder lembrar. Ruim mesmo é a gente perder uma memória, de repente ela não está mais lá. Não é como esquecer a palavra que eu queria usar mas esqueci, ou a matéria de uma prova importante, ou um assunto que estava pensando agora a pouco. É uma coisa dolorida, misturar os detalhes de lembranças antigas que se guardam para te dar saudade mais tarde. 
   Esse esquecimento não é como aquele que volta pra gente como se nunca tivesse sumido, com cara de culpado depois que a gente já não precisa mais dele. Ou aquele que a gente reaprende, e diz “nossa! Eu sabia disso!”. 
   Mas como essas memórias recheadas de emoções se perdem? Que estranho que é, né? Eu gosto de ler sobre curiosidades e pequenas pesquisas, que fazem para responder esses tipos de perguntas que as pessoas costumam se fazer uma vez na vida, mas ainda não achei quem me respondesse.
   Acho que acabamos guardando certas coisas em um poço profundo para que caibam tudo o que queremos (ou não), mas quando esticamos nossos braços pra resgatá-las percebemos que estão longe demais e quase não temos mais ideia do que elas são.
   Ou então a gente só desprezou algumas memórias quando bem pequenos, porque não significavam, não tinham importância. Não tinha importância? Engraçado, talvez não soubéssemos, por volta dos três anos, o que é dar importância ao que acontece em nossas vidas, e pequenezas de dias cotidianos. (Suspeito ainda que não aprendi completamente essa coisa de dar importância a tudo isso, mas esse é outro assunto).
   Existem tantos “talvez” que eu queria escrever aqui tentando responder a mim mesma, tantas discussões que já tentei formular, mas ainda não pensei em nada concreto. 
   Será que a gente esquece por completo? 
   Que difícil que é pensar assim, não podemos só perder as lembranças e fim?
   Sem mais nada pra pensar, lembro que gostava de deitar de cabeça para baixo no sofá e gargalhava porque não aguentava muito tempo.

   E se for possível relembrar memórias perdidas? O que eu estou fazendo aqui escrevendo sobre as lembranças apagadas, com uma borracha já velha e usada, permitindo-me ver os resquícios de uma  Lê mais nova, que ainda não se preocupava com o futuro?

2 comentários:

  1. Bonita essa crônica, Lê!!
    sabe, eu acho que a gente sempre guarda a gente dentro da gente, mesmo que, de vez em quando, a gente não ache...
    :-)

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