Eu amo carnaval, ou pelo menos a ideia de ser feliz sem motivo. Descobri isso
há alguns anos, desfilando numa escola de samba na cidade de Mococa, interior
de São Paulo, onde deixei-me sorrir pelas avenidas. Éramos eu e minha prima. A
cidade é pequena, portanto quase todo mundo ali eu conhecia, quem desfilava
costumava ser amigo de infância dos meus pais. Chegar de
fantasia realmente me fazia sentir em outra pessoa, alguém dentro de
mim que só aparecia no carnaval.
Desfilar
na avenida e ver as pessoas ao meu lado sorrirem despreocupadas com a vida,
cantando o samba que decoraram para os grandes dias, sambando como se a música
fosse eterna, e sentir a alegria exalada de cada um, deixa tudo mais gostoso, sendo
onde eu estiver.
Me perco na multidão vendo a alegria alheia de quem canta o refrão fácil do
samba enquanto dança sem querer parar. Desfilar na rua me faz querer mais e
mais. Vendo as pessoas de fora jogando confete, espuma e serpentina enquanto
filmam a brincadeira desse povo que se joga na avenida.
E chover no carnaval, pra mim não faz mal. Deixar a fantasia pesada molhar e
lavar a tristeza. Sentir o friozinho que dá, e depois passar, de tanto pular.
Poder gritar e sentir todos me ouvirem, dançar seguindo a canção e se arrumar
para a festa que tenho dentro do meu coração.
A tristeza me passa só na hora que acaba, e ver todos tirando as fantasias
comemorando a cantoria. Mas não é nada comparado com a emoção que me vem ao
pensar que carnaval tem todo ano.
Mas esse ano foi diferente, o carnaval ali acabou. De pouco em pouco quem
estava de fora não mais se animava, e acabaram abandonando essa riqueza que a
cidade tinha. A prefeitura também não ajudou, deixou sem desfile a
cidade. Então a solução para não perder a festa foi ficar aqui em
Sampa, o que não é de meu costume nesta época do ano que tanto esperava
ver a cidade sem muita atração.
Quem está de fora reclama porque teme da segurança precária, e às vezes com
razão. Mas quando encontramos o bloco, a avenida, ou a escola que nos dá espaço
de ser feliz, o carnaval leva a gente para outro mundo. Não temos mais
problemas na cabeça. Nenhuma preocupação ou infelicidade.
Antes, toda essa folia e animação era a paixão do Brasil, mas pelo jeito vai
ser só história daqui algum tempo. Com falta de respeito, os jovens de hoje
perderam a noção da beleza que podíamos fazer do Carnaval. Pensar que uma
bagunça é besteira. Todo mundo sincronizado na alegria, não tem como ser ruim.
Não queria que desanimasse, e o carnaval acabasse. É claro que estes problemas
são reais, mas não só no carnaval. Eles estão o tempo todo em todo lugar.
Então escrevo para virem às ruas verem a beleza que fazem na cidade.
Cotidianamente toda cinza, mas nesta festa tudo tem cor.
Ah, só de ver o rastro que deixam nas ruas, não parece verdade. Absorver cada
sorriso da multidão que me envolve de alegria, me faz lembrar que existe tempo
só de felicidade.
Andam dizendo que carnaval é uma tolice, se escondem atrás da incerteza de
encontrar um bloco que nos acolha nas ruas. Estupro, abuso e preconceito
acontecem sim, mas não só no carnaval.
Aqui em Sampa, no fim de semana de véspera de toda essa folia, vi o quanto se
importaram com essa alegria pública, com muito espaço para a festa a cidade
está mais organizada que pensei. A multidão vem como for, de metro, busão, à
pé, bike ou skate, a cidade se enche de confete, espuma e serpentina. Aí que
coisa boa! Voltar pra casa à pé só para ver a marca que deixaram. Uma calçada mesmo
que suja, toda colorida.
Posso dizer que São Paulo está preparada para o carnaval?
Uma pergunta sem resposta. Mas me animei bastante esse ano, com tantas
marchinhas legais e blocos organizadíssimos, que convidam quem está de fora
para se juntar e assistir das janelas a bagunça gostosa que tornamos aos poucos
essa data.
😍
ResponderExcluirGostei Leticia! Acho que pode enlaçar melhor a crítica ao carnaval à exaltação deste, ficou um pouco desconectado.
ResponderExcluirmas adorei ver você dançando o carnaval.
e por que o carnaval em Mococa acabou? que triste...
bom trabalho!
Luana